8 de março de 2016

Own every single day of your life.

Hello, dear darlings. Hoje é Dia Internacional da Mulher.


Sempre que chega este dia fazem-se declarações de parabenização às mulheres da vida de cada um, às mães, às namoradas, às amigas, etc. E, regra geral, é aproveitado o engonço e fazem-se uma série de acções estereotipadas absolutamente desnecessárias e que, na minha opinião, não cumprem o objectivo: celebrar e valorizar todas as mulheres. Eu nunca tive grande reacção a este assunto, mas sempre tive muitas opiniões. Quero deixar claro que não sou, de todo, uma daquelas pessoas que vê racismo e sexismo e etc., em tudo. Não vejo, mas houve algo no dia de hoje, neste ano, que me deixou um pouco desconfortável.



Estava tudo muito bem até ter chegado a Lisboa e começarem a oferecer-me flores e a chamarem-me de princesa. Não, obrigada. Não há nada de errado se alguma mulher se sentir especial com este gesto, mas a mim diz-me pouco e chamarem-me de princesa não me faz sentir melhor, nem mais especial, muito menos celebrada. Eu sei que sou do caradji, aprecio que saibam que sou do caradji, mas o que gostava que acontecesse é que me dessem um high-five e que quando digo que sou do caradji me respondessem “ya, és mesmo do caradji”.  





Eu sei que todos os dias são da mulher, eu sei que aquilo que se celebra hoje devia celebrar-se todos os dias, mas eu gosto que haja um dia da mulher. Para que nos lembremos de todas as mulheres que lutaram para que, neste momento, possamos viver uma vida com direitos básicos. Para que celebremos e relembremos todas as mulheres que fizeram com que possamos viver uma vida privilegiada. Aliás, para que possamos agradecer por alguém ter lutado tanto por algo que para nós nem parece um privilégio por  serem só basic human rights, mas adiante. O que eu não gosto é que isso tão facilmente se traduza em gestos que só acentuam os gender roles absurdos e que vão contra tudo aquilo que levou à oficialização deste dia.


Bom, depois de me oferecerem as flores e de me chamarem princesa, só por ser o Dia Internacional da Mulher, eu já estava desconfortável o suficiente com toda esta coisa e só queria que os homens à minha volta parassem de tentar validar a minha existencia. No entanto, este desconforto aumentou quando cheguei ao Facebook e vi o vídeo que a RFM fez como “surpresa” às mulheres que trabalham no edifício da rádio. Esta surpresa basicamente consistia em ter dois senhores jeitosos no final de uma escadaria. O papel destes senhores seria ir ter com as senhoras para as levar pelo braço até ao fim da escadaria, dando-lhes também uma coroa para o restante caminho. Como assim? Como é que isto é celebrar as mulheres? Sim, porque o melhor prémio para uma mulher continua a ser um homem, não é? Yeah, thank you, but no. Compreendo que o vídeo foi uma “brincadeira” e blá blá blá, mas ainda assim: thank you, but no. Pode ser que seja de mim, mas acho que ter o Jorge Corrula a levar-me pelo braço escadaria abaixo não me celebra de forma nenhuma, nem evidencia a pessoa awesome, forte e independente que sou.  


O meu ponto é que hoje é o Dia da Mulher e isso não devia ser uma premissa para acentuar ainda mais os gender roles, mas sim para que estes desapareçam cada vez mais depressa. Hoje é Dia da Mulher e gostava que fossem as mulheres a celebrá-lo, em vez de terem outras pessoas a tentar validar a sua existência através de estereótipos de o que é ser mulher. Neste dia gostava que se olhasse mais para a História, para tudo o que aconteceu até este momento, para o que está a acontecer e para tudo aquilo que falta fazer. A desigualdade de género é um problema real no mundo e é uma luta de todas. Uma luta para que sejamos todas iguais. Não para sermos mais ou melhores, mas para sermos sempre iguais. E em tudo.


A todas as mulheres que estiverem a ler: não deixem de lutar. Não deixem que vos desrespeitem, nem que vos tratem mal. Valorizem-se sempre e valorizemo-nos umas às outras; valorizemo-nos muito mais umas às outras. E se disserem que estamos sempre zangadas, façam-lhes o manguito e perguntem como é que não havemos de estar zangadas? Que estejamos sempre zangadas até que haja igualdade para todos.


Don’t let your guards down and own every single day of your lives.

xx

4 comentários:

  1. Obrigada, Inês. Acabaste de dizer aquilo que me estava aqui entalado. És mesmo do caradji!

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    1. Obrigada eu, querida Margarida.
      Tu é que és mesmo, mesmo do caradji! É sempre um prazer enorme ver-te por aqui. :)

      Um abraço apertado.

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  2. Inês, muito cool o texto. Não basta a simplificação da celebração da mulher apenas por ser mulher, puxando o lado supérfluo da coisa, quase diminuindo o papel desta em flores, cremes de borla, entre outras, que embora até divertidas, faz-nos perder o fundo da questão.

    Maria M.A

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    1. é isso mesmo! é preciso não nos esquecermos do ponto fulcral aqui.
      ainda bem que gostaste do texto, sweetie! um abraço enorme. <3

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